quarta-feira, 1 de julho de 2009

Crianças na praia


Loretta Lux

Quantas vezes? Quantas vezes ouviste essa música? Quantas vezes fechaste os olhos ao som dessa música? Não te cansas...
Não, não me canso. É a eternidade. A eternidade em nós. Vamos por aqui. É mais longe, demoraremos mais tempo a chegar ao fim. E não tenhas medo.

Foi brutal. É brutal.
Se assim é porque desistes? Não desisto. Adio.

O rio estava verde azulado. Muito iluminado. Ri. Ri com histórias de infância.
E no peito aquela falta. E o cansaço. As pernas a latejar. As costas encurvadas.
Abri o caderno. E nada. Nada. Seca de palavras.

Sou egoísta. Desculpa não olhar senão em mim.
As crianças brincam na areia. São abandonadas na praia.
Vomitar palavras.

Eu olho neles. Na vida que já se esperava deles. Interrogo-me porque todos eles são tão semelhantes.
É a doença. Ou as creches. Ou as festas. Ou o tempo que voa e eles de pés pousados no chão.
E em toda aquela vivência não existe uma emoção forte.
Não existe um arrebatar.
Não existe sufoco.
Não existe tesão.

Como eram vocês dois quando se conheceram? Era forte? Sufocava? Sufocavam-se? Agora. Agora parecem velhos. Agora parece que assinaram um papel em que diz que tem de estar assim. Juntos.
Agora nem um sorriso de cumplicidade. Apenas discursos em como as férias foram agradáveis.
Esfuma-se a paixão e tornamo-nos nisto.
Neles aceito. Em mim? Aceitei também.
Ainda que eu seja sempre diferente. Porque sou eu. Porque a minha cabeça não pára.

A mana disse-me "estás fodida". Estou fodida mana.
Como sabe ela? Acaso já se terá fodido desta forma?
A cabeça está fodida. É um imenso buraco vazado cheio de ar e nevoeiro.
Mas é preciso fazer uma radiografia panorâmica.

Ouves a música?
É música de foda. Suada.

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