segunda-feira, 20 de julho de 2009

Vem ver


Romain Slocombe

Tu vais olhar na tua frente. Sentir que me vês. Que estou do teu lado. Que sentes a minha mão brincar na minha perna. Os meus dedos roliços deslizarem na minha perna. Sentes-me nervosa. Nervosa de ti. A querer-te. No silêncio. Vais ver-me a teu lado. E calado observas-me. Eu abro a boca para dizer algo. Algo que tu já sabes. Fecho-a. E tento novamente abrir. Mas tu já sabes. E calas-me. Calas-me com um olhar. E depois do olhar que eu tremo, calas-me com um beijo. Um beijo em mim. Para que me cale. Para que não me pronuncie. Porque é doloroso. É doloroso este sentir assim. Porque eu sofro por ti. Porque sofres por mim. O teu braço toca-me na cintura. E amarra-me. Um beijo que ainda não terminou. Sentes-me os lábios. A língua. Um beijo. Um beijo leve sem força. Sem carne. Um beijo de corpo com alma. É nesse beijo que te perdes. Onde eu já me perdi. Tinha de ser assim. Sabemos que tinha de ser assim. Uma atracção. Um beijo.


Vais perguntar-me quem sou eu. E eu não sei responder. Ficarei calada a teu lado. Querendo olhar-te. Com medo de olhar-te. Ou talvez não. Talvez me vire para ti e me vejas os olhos. Quem sou eu? E tu quem és? Sim, poderei responder com uma pergunta. E tu tentarás responder-me com banalidades. Mas calas-te. Sabes que não é isso. Não foi isso que nos perguntámos. Silencias-te. Ainda tens na cara o cheiro do beijo. Nos lábios o sabor do beijo. Nos meus um tremor. Uma vontade de me silenciar na tua boca. Pela tua boca. Através da tua boca. Olho-te. Toco nos teus cabelos. Grisalhos. Observo os dedos que entram e passeiam nos teus cabelos. Questionas-te. Serei assim sempre? Não sabes. Mas queres perguntar. Saberes-te especial. Sem dúvidas. Saberes-te único. Eu olho. Sei. Sei-te. Sorrio. As tuas dúvidas dissipam-se. Ou não...

Quem nos uniu? Porque nos unimos? Porque existem estas leis? Que empurram corpos contra corpos. Mentes contra mentes. Corações contra corações. Que leis são estas que não são científicas? Diz-me tu. Tu homem de números e teorias. Eu não sei. Nada sei a não ser sentar-me a teu lado e esperar que me beijes. Nada quero a não ser sentar-me a teu lado e esperar que me beijes. Beijas?

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