quarta-feira, 8 de julho de 2009

Páscoa


Brassai - Prostitute

Como é possível? É e foi sempre tudo tão rápido. Contigo o ar é-me aspirado dos pulmões em menos de um segundo. Contigo eu agora estou ali e antes do agora já não. E um pouco depois também não. Um carrossel colorido de emoções. Uma vontade perdida por aí. Pelas ruas. Pelas calçadas. Pelas manhãs. Por um acordar em ti. Porque é em ti que acordo. Dizes-me como é possível? Dizes-me como é que o tempo deixa de o ser? Quando já não sei se sou, se estou, se vou, se fico. Quando escorrego e caio nesta vertigem, neste precipício que tem o teu nome. Como é possível que tudo o que é me te lembre. Como se de uma omnipresença. É. Tu. Tu. E tu. E acordo tremendo das pernas. Como menina com xixi. Acordo tremendo das pernas e no calafrio de ti. O primeiro pensamento. Tu. Ai. Tu. E tremendo das pernas escrevo-te cartas de amor. Cartas de entrega. Cartas de nada. Porque são nada. Nada neste todo emaranhado que tornaste a minha vida. E ainda estamos no Verão e já é Inverno. E ainda ontem era Primavera de manhã. O Outono? Não sei. Diz-me tu. Tu que me trocas, e baralhas, e cansas, e tratas para me deitares de novo e novamente na cama. E o alívio? O alívio desta manhã? Um respirar total. Porque te tenho. Porque me tens. Porque não temos hipóteses. Porque já não consigo correr de ti. Porque não sei. Porque já não sei. E não me canso. Não canso. E grito. Não canso. De te dizer. Quanto. Quanto. Quão. Quão. Sou tua. Sou tua. E loucura. E insanidade. E tesão. E luxúria. E querer. E vontade. E tudo. Tudo. Fazes ideia? Fazes. Sentes? Se é que é possível sentir. Sentir além do que já sentimos. Presente e passado. Ontem por várias vezes encostei as mãos ao rosto. Dos lábios um Voltei tímido a medo. Sem te dizer. Calando. Sussurrando. A medo. Com medo. E fascínio. Sabendo que o meu pé estava já pousado no teu degrau. Que não servia de nada ter a perna encolhida para me escapar. Estou descalça. Estou nua. Despida. E é sempre pouco. Sempre tão pouco. Uma impossibilidade. Uma impotência. São 7? À pouco eram 2. Ou 23. Ou o que quiseste que fosse. Um refresh. Dois. Três. Um desgaste de refreshs. Uma loucura de refreshs. As escadas, o hospital, o miradouro, a descida, a mesa branca, o rato cinzento, a porta castanha. Eras tu? Diz-me. Confessa. Eras tu transformado. Eras tu a gritar-me. Eras tu. Não te direi mais porque vou dizer-te tudo. Tudo. Até ao enjoo dos outros. Até já ninguém conseguir ouvir-me, ler-me, falar-me. Por ser assim tão tua. Acordei e vi que hoje é Natal. Ou já foi e...já não é.

2 comentários:

  1. O outro amado e sempre o estranho familiar. O estranho porque a palavra e a metáfora vao sempre um pouco mais a frente. Nao podiamos amar se nao ouvessem toneladas de romances de amor. Mas sao estes mesmos romances que tornam o nosso amor pesado e imponderável com milhares de anos de cultura. Do outro lado eu amo uma menina hamster, uma bruxinha galega, de olhos verdes e cabelos de ouro.

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  2. Peço desculpa pelos erros presentes e futuros. Gramaticais neste caso. (os outros também, noutros patíbulos)

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