quarta-feira, 15 de julho de 2009

Mais logo


Francesca Woodman


Com quantas pessoas podemos ser felizes? Com quantas pessoas podemos fazer amor e amar?
Com quantas nos podemos relacionar? Limitam-me os números. Quando aprendi que do 1 ao 1,1 vai uma infinidade deles. Que não tem fim.
Chamam-me louca. Talvez. Talvez. Mas eu gosto do algarismo 7. Rio-me. 7. Que tal? Tentar 7? Não. Teria de ter como profissão o amor. E o sexo. E tudo aquilo que bebo e como. E defeco. E ter em mim quatro braços, e cinco pernas. Duas cabeças e uma tromba de elefante. Rosa. Rosa claro.

É que existem relações que me fascinam. Que sempre me fascinaram. Pela relação. Pelo poder. Pela intensidade. Pelo sentimento. Amar-te porque nunca terás erecção para me penetrares. Amar-te porque nunca me amarás. Amar-te porque nunca te poderei dar mais que este amor. Amar-te porque me magoas. Amar-te porque me fazes doer. Amar-te porque te provoco. Amar-te porque te ajoelhas. Amar-te porque me lambes e não sabes lamber. Amar-te porque me fodes com força. Amar-te porque me queres consumir. Amar-te porque me dás banho. Amar-te porque me chicoteias. Amar-te porque ris. Amar-te porque sim. E porque não?

E sim não é a primeira vez. Já antes tive dois, três amantes. Sim, é verdade. A minha felicidade por os ter.

Sentámo-nos os dois no degrau em frente à casa. O meu cu gordo contra o cu dele. Falávamos em como gostávamos de tudo aquilo. Deles. Dos nossos Senhores. Parece que foi há muito tempo. Parece que eu era criança. Mas tinha as mãos que tenho hoje. E os olhos. E tento recordar-me o que esperávamos. Porque não levantávamos os nossos cus gordos daquele degrau. Porquê? Esperávamos que anoitecesse para entrarmos em casa e escondermo-nos. Foi contigo que aprendi a ver-me. A olhar em mim. Ou não. Tu dizes que não. Dizes que eu sou honesta. Sou? Não sei. Há em mim a ingenuidade de quem quer acreditar. De quem vai à catequese. Foi no Museu de Arte Antiga. Passámos um pelo outro. Na porta. Eu abri a porta. Empurrei-a e tu puxaste-la. E continuámos. Hoje tu abririas a porta e eu passaria. Depois voltaria atrás para te abrir a porta. E ririamos por sermos assim.

Sim eu oiço. E vejo. E consumo. Vozes e imagens e café.

Um vómito. Preciso de vomitar. Vomitar-me até ao vazio. E se for na tua frente vou ter de o engolir.

2 comentários:

  1. Ao seis fica a faltar um, se calhar há uma perfeição divina no 7, número primo dos pecados capitais. Com quantas pessoas podemos fazer amor e amar? O melhor é contar no fim.
    Gosto de como escreves, e do Museu de Arte Antiga.

    ResponderEliminar
  2. A ingenuidade é um dos tesouros secretos do equilibrista no arame. Caminha porque nao olha para baixo. É sempre melhor imaginar o que está lá em baixo, do que ser violentado pelo suposto real. Da minha parte, ao recordar-te e ser recordado celebro a nossa amizade :)

    ResponderEliminar