terça-feira, 14 de julho de 2009

Largada de touros


J S Ross Bach

Uma roda. Um carrossel. Colorido. Azul. Amarelo. Verde. Vermelho. Rosa. Pipocas. Algodão doce. Um rodopio. Um enjoo. Uma tontura. Rodar. Rodar. Num ponto aqui. Agora ali. Sobe e desce.

Adoro-te.

Espelho-me em ti. Espelhas-me. Abro a boca e dou-te uma dentada. Bate-me. Para que me cale e me encerre nesta vertigem. Já ouviste falar no museu de marionetas? Ou em museus? Em um qualquer museu? Que fazemos com tantos museus? Não vamos. Sentemo-nos. Olhando as beatas no chão. Fumando. Digo-te que não e no segundo a seguir estou de mão dada. Digo-te que não e deixo-me vendar. Mas não. Não é isto que eu quero. Digo. Afirmo. Convicta. Mas vamos. Leva-me.

As mamas. Ainda marcadas. E esta falta da tua pele em mim. Apetece-me dizer aqui o teu nome. Posso? Posso dizer aqui o teu nome? Escrevê-lo? Posso? Deixa... quero. Tenho essa necessidade. Apenas de dizer o teu nome. Escrevê-lo. Para que tudo fique escrito. Deixa. Excito-me. Sim. Apenas porque não posso escrever aqui o teu nome. Porque tenho que te deixar no anonimato. Tenho? Deixa.

E não digo nada. Esperas que diga alguma coisa? Que posso eu dizer? Tudo o que te digo volta para trás. Tudo o que te digo é retirado. Com toalha, pratos, talheres, copos, tudo. É puxado. Arrombado. Partido. Dilacerado. Em cacos. No chão. Digo. Digo. E... calo-me. Ou afirmo o contrário. Deixo-me manipular. Sim. Não existe ingenuidade. Existe uma confusão. Um medo. Imagens agarradas à pele. Esfrego-me. Esfrego-me em ti. Nesta espera. Nesta espera, visualizando-te de cigarro na boca. As tuas mãos. E não me lembro do teu cheiro. Tenho de fixar o teu cheiro. Deixas-me? Poder fechar os olhos e sentir o teu cheiro. Mas para isso tenho de deitar a minha cabeça no teu peito. Ou no teu colo. Tens de me deixar aproximar-me. Aceitar o meu corpo. Sem soluços. Sem rompantes. Sem safanões. Sem dor. Aceita. Sem me afastares, porque para existir movimento há um vem e vai. Troquemos. Joguemos o vai e vem. Vem. Vem. Vem.

Posso chamar-te de meu amor? Sim. Deixa-me usar a palavra. Sem alianças e frigoríficos. Sem fogões e créditos à habitação. Sem nada. Somente o tom. Sente-lhe o tom. Palavra grave. Começa em agudos. É assim como nós. Um gráfico. Um biorritmo. Como tu.

Hoje quero-te aqui. E amanhã. Ou depois. Esta semana. Este mês. Durante este ano. No Natal. E na Páscoa que já passou.

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