sexta-feira, 3 de julho de 2009

Café e cigarros


Richard Avedon

Uma porta que se fecha. De um carro. Faltam 30 minutos para o despertador tocar. Não tocará. Já foi puxada a patilha.
Durmo com quem quer dormir comigo. Com quem não se importa de dormir comigo. Com quem entende esta minha irritação. A casa. Piso um palito no chão. Na mesa cinzeiros, copos, canecas, maços de tabaco vazios. Ainda não disse Bom Dia Fernando. Dorme. Um dia vi um filme em que ela escrevera uma carta. A carta mais importante da vida dela. A carta onde lhe dizia que iria viver em função dele. Mas eu tive de ausentar-me. Tive de sair da sala e ir à casa-de-banho. Perdi a carta. A leitura da carta. E tudo isto é uma falsificação. Tudo isto é uma tentativa de me fazer sentir, deitada no escuro.

Estás difícil. De ler. De escrever. De andar. O apetite retorna. Mas hoje vou deitar-me na maca. Vão espetar-me agulhas. Ou pregos. E vou sonhar com ele. Parada. Deitada. Com música de fundo. Sonhar que um dia tomarei a decisão.

E já me canso. Já me canso de mim mesma. De colocar um pé no degrau e não subir nem descer. Preciso de raiva. Da raiva que impulsiona. Que me faz correr e depois pensar. Por vezes é preciso ser assim. Intempestiva. Como naquele dia em desespero. Não quero mais. Não me quero subjugar. Não me sinto submissa. Não quero... e o silêncio que adveio. O olhar dele em mim. A sua falta de palavras. Saiu. E eu fiquei sabendo que tinha de subir ou descer um degrau. Que tinha um pé no ar que tinha de colocar no chão. Onde apoiá-lo? Onde apoiar-me? E a tragédia que vira comédia.

Vou contratar palhaços para alegrar este cenário. Estou farta do Édipo Rei. Do Prometeu agrilhoado. A minha pele está macia.

E estas manhãs. As minhas manhãs. São estas manhãs e é nestas manhãs que eu partia. Ou deixava-me ficar à tua espera.

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