quinta-feira, 30 de julho de 2009

macramé


Alfred Stieglitz - Hands With Thimble

Anda meu amor. Vem comigo. Vamos passear de mão dada. Vamos subir e descer as escadas. Vamos ao museu do fado e almoçar em Alfama. Vamos à rua onde nasci. Anda. Traz-te. Traz-me. Vamos. Viajar vestidos de cegos. E de lagartos. Escorrer pelos calçadas. Transpirar no sé. E na fé. Subir ao Castelo. Fazer amor aqui e acolá. Vamos. Se puderes pagar o gás amanhã.

As minhas relações começam em Abril. E não chegam ao Natal. Não temos dinheiro para prendas e presentes. Mas não faz mal. Existe a Páscoa. E a ressurreição. Existo eu. Que me mantenho. Existe o mais importante. Estas mãos. E os olhos. Um pensar. E um sentir. Existo eu. Por agora. Para sempre. Conhecer-me na não existência. Conhecer-me não sendo. Andar descalça num parque infantil. Destruir os baloiços pelo uso. Ler as biografias do Stefan Zweig. Sim mãe. Sim mãe. As pessoas sempre foram importantes na minha vida. Sou como a Carolina. A necessitar de gente. E de faces a quem sorrir. Desde pequenina. Desde miudinha.

E é de manhã. E ontem era de noite. Para a semana falta pouco. E o tempo passa. E eu aqui. E tanta coisa. Para fazer. Para deixar de fazer. Para adiar. Para pensar. Um bebé chora. Quer colo. Oiço-o. E escrevo-o. Um bebé chora. Desencontros. E é neste fim-de-semana. Durmo no sofá. É neste fim-de-semana. E será verde. Como os olhos dela. E dele. É neste. Senhores a minha vida não dava um livro. Coisa pouca. Um livro que não tenho vontade de escrever. Está escrito. Senhoras perdoai-me mas eu não sou uma Margarida. Nem uma escritora. Apenas tenho esta necessidade compulsiva de palavras. E somente quando estou só. Somente quando não existe com quem partilhar. Somente quando me obrigo a contar. Somente quando não entendo. Nem compreendo. Eu sou de vida. De fazer. De ir. De cair. De me espalhar. E sujar. Sou de agir.

Mostrei-lhe as minhas mamas. Saquei-as pelo decote e expu-las. Ele corou. E eu corei nele. Toma estes caldos de mim. Uma sopa. Um rubor. Posso maquilhá-los. Como aos olhos. Para que se borrem. Para que tenha olheiras. Gosto de me ver borrada. E esporrada. Prender os movimentos, os sorrisos, as expressões através da esporra seca. Lavo a cara depois. No dia seguinte. Deixo-a cair na fronha. Na lembrança. Mas agora tenho de estender roupa. Depois. Depois vou procurar um poeta por quem me apaixonar. De barba. Para que a minha comichão não pare. Um poeta. De poemas presos nos dedos. E no meu corpo. De dedilhares em mim. De entradas no cérebro. E aceitação. É secreto. Como o clítoris.

Não existe cura. Não existe cura.

3 comentários:

  1. You´ve got the love drugs.
    You´ve got the long nights,
    You got the heartbeat that sprirals to heaven...Come on and take me away!!!

    JPS

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  2. "There aint no cure for love". Pelo menos assim dizia e diz, um trovador bem conhecido. Mas não acreditamos em curas naturalmente. A vida devolve sempre o que lhe ofertamos em forma de escrita. Mesmo que a fortuna desconfie do retorno. :|

    fernando

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  3. Sem rótulo de poeta,
    sem entrar em divagações.
    Vê o meu blog,
    e diz se está em condições.

    (Dosonhoaspalavras.blogspot.com)

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