sexta-feira, 3 de julho de 2009

Quarenta


Cindy Sherman - The Pink Towel

Leva-la a jantar. Num restaurante escuro. Acolhedor. Com silêncios de talheres e pratos. E sussurros de empregados em camisas brancas.

Vão jantar.

Ela é agradável. Fresca, ainda que maquilhada. Tez morena. Gostas das covinhas que faz nos cantos da boca. Provoca-la. Sim, vejo-te a provocá-la. Ou talvez não. Talvez aguardes pelo momento. Como sabes aguardar. Como sabes esperar. Talvez te encerres e observes. Tentes sentir. Senti-la. Ela baixa os olhos por um instante. Apenas um instante que termina com o teu olhar nela. Aprendeu. Já não é menina. No decote. Os teus olhos caem no decote e neste o rego que tu queres perturbar. Será que ela gosta das tuas covinhas? Será que as visualiza e se perde no movimento delas. No ser ou não ser. Agrada-lhe o teu sorriso? O teu riso? Ela não diz. Que sentes?

Imagino-a de cabelos pelos ombros, castanhos escuros com nuances claras. De unhas polidas, tratadas com tempo e dedicação. A dedicação de uma mulher com filhos já crescidos, com marido fora de casa. Com tempo para se olhar no espelho e fazer-se desejada.

Ela fala. Fala no passado. No seu passado de mulher. E mãe. E tu? Ouve-la. Gostarias de poder falar? Mas falas. Aprendeste a rir. A falar. Por vezes visualizas a tua mão no pescoço dela. Torcendo-o. Agarrando-o. Sufocando. Para que entres mais. Que fazes? Ela pousa o guardanapo. Levanta-se. Os teus olhos seguem-na. Depois finges-te distraído com as migalhas na mesa. Tens calor. O que pensas? Pensas? Não sei como te sentes. Estás calado. Olhas para o exterior do restaurante. Para a porta aberta. Ouves os carros lá fora. Vês as luzes amarelas. E esperas. Como só tu sabes.

Beijam-se. Beija-la? Agarras-la pela cintura e beijas-la. De pé. Os dois de pé. Corpo contra corpo. Enlaçados. A tua mão desliza sobre o ombro dela. Até ao peito que agarras. Espremes. Um gemido. Enches a mão de carne morena. Entras com a mão e dedilhas no mamilo. Gemido. Afundas-te no pescoço dela enquanto lhe tiras a camisa. E aqui paro. Despem-se vorazmente? Ignorando os beijos, as carícias? Enquanto ela geme empurra-la até ao chão que lavaste no fim-de-semana. Para a receber a ela. Despenteada. De joelhos. Próximo. Mais longe. Próximo. Mais longe. Sim.

E é somente no quarto que se desnudam. Eu vejo. Não me aproximo. Mas vejo. Estou deitada na minha cama. Na sala alguém tacteia um teclado rapidamente.Só visualizo as tuas feições. Gotas de suor correm-te do rosto. Não tens mão para as secar. E cada gota que se separa do teu corpo cai na minha boca. Abro-a. Viajam até mim. Em cada encontrão que dás no corpo dela eu estremeço. Sentes? E não vais acabar. Não vais acabar nunca e eu em espasmos vou morrer aqui deitada na minha cama. Bebendo o teu suor. Sentindo as tuas mãos nas ancas dela. Agarras-lhe no cabelo com força e solta-lo de seguida. Lembraste. Podes entrar mas não te podes perder.

Imagino o final? Sim. Se eu quiser também o final. Se a minha mão estiver entre as minhas coxas. Se os meus dedos estiverem húmidos. Se a minha boca estiver semi-aberta. O final é teu. Eu vou por arrasto.

1 comentário:

  1. Um texto que tambem podia ser um filme. Polido talvez com angústia e lascívia disciplinada, contida. Certamente ainda com outro desejo, de nao acrescentar mais ao que é apenas necessário. O erotismo é um palco de sombras chinesas, onde dizer mais ou demais é violentar. O sexo como a banalidade, esconde-se nas frinchas da nossas existência. E onde estão as rosas Sra?

    ResponderEliminar