quarta-feira, 5 de maio de 2010

Grinderman - (I don't need you to) Set Me Free



Café. Chá e torradas. Praia. Pele morena. Um telefone. Dois.

Lorelei

Souls on fire - Ruela
 

Não conseguia deixar de pensar na Joana. No que nos afasta e nos aproxima. De comparar-me. De querer ver que sou mais forte. Ou mais fraca. De me sentir diferente. Com um final diferente. Com um final mais feliz? E nesta angústia procuro saber o que me prende. O que me prende? O que te prende? Ele e eles. Mas ela tinha um ele. Deixou apenas de ter uns eles. Ele… o que me aceita. Aceita?

Angústia.

Deixa-me beber vinho.

Raul Lino. Sintra. Cascais. Braga. Covilhã. Loja das Meias destruída. Chamam remodelação.

Um dente saltou-me da boca enquanto eu como tostas mistas. Mas a música encanta-me e eu sou a que expiou a culpa ao telefone. Um dia ainda vou encontrar um lugar onde não existem próteses nem acessórios de cozinha por fotografar.
Ele entusiasma-se. Eu olho-o. Ele emociona-se com a alegria da diferença. Eu olho-o e invejo.

Há uns miúdos vestidos de pijama todo o dia. Estão frente a mim. Tenho piedade dos miúdos que não conhecem o vento nos cabelos e o sabor das canas na boca e no nariz. Uns miúdos que às seis da tarde estão de pijama fechados numa casa onde as janelas só abrem ao fim-de-semana. Pobres miúdos. Fruto de o sonho de alguém. Recebem o melhor. O melhor que lhes pode ser dado. O melhor. Ironia. Os que tem filhos e os trancam assim. Em casas de bairros. Sem jardim. Sem flores. Sem terra e lama. Sem hortaliça e feijões. Sem amores de calçada. Sem nada que seja uma vida.

Tenho filhos. Aos mil. Que adopto nas esquinas e travessas. Tenho netos aos milhares a quem sorrio na impossibilidade de ensinar. Mas amo-te. Ou não? Os homens que me amaram nunca me leram e os que me leram nunca me amaram. Consequências?

Ontem senti-me só. Mais só que os sós. Mais só que os abandonados. Só de pensar. Só de sentir. Só porque não interessa. Só nesta miséria humana que vejo e revejo. Em mim. Em ti. Em todos. Sinto-me um arrastar pela casa…

Um nome. O meu nome. Virgínia. O teu nome mãe. E a quantidade de quilogramas por preencher nessa alma grande. Há um sentido que procuro. Sempre o fiz. Perdoa-me. As unhas estão sangrando neste verniz cor de mim. Cor de quem quer como eu. E desiste. Quero e desisto. Quero-te mas eu já me afastei. The theatre of tragedy.

Há uma seara de trigo. Nela vê-se uma mulher e um filho. Filho porque loiro e pequeno. E eu que conheço bem as searas de trigo sei que ninguém para nelas a não ser as crianças. Romantismo. Odeio romantismos e lugares de searas. Odeio perder e fazer funerais. Ver-te feliz… dói. Não odeio. Dói. Eu sou a patinho feio com sonho de cisne. E enquanto existirem cigarros por fumar estarei por aqui.

Fumando.