Não conseguia deixar de pensar na Joana. No que nos afasta e nos aproxima. De comparar-me. De querer ver que sou mais forte. Ou mais fraca. De me sentir diferente. Com um final diferente. Com um final mais feliz? E nesta angústia procuro saber o que me prende. O que me prende? O que te prende? Ele e eles. Mas ela tinha um ele. Deixou apenas de ter uns eles. Ele… o que me aceita. Aceita?
Angústia.
Deixa-me beber vinho.
Raul Lino. Sintra. Cascais. Braga. Covilhã. Loja das Meias destruída. Chamam remodelação.
Um dente saltou-me da boca enquanto eu como tostas mistas. Mas a música encanta-me e eu sou a que expiou a culpa ao telefone. Um dia ainda vou encontrar um lugar onde não existem próteses nem acessórios de cozinha por fotografar.
Ele entusiasma-se. Eu olho-o. Ele emociona-se com a alegria da diferença. Eu olho-o e invejo.
Há uns miúdos vestidos de pijama todo o dia. Estão frente a mim. Tenho piedade dos miúdos que não conhecem o vento nos cabelos e o sabor das canas na boca e no nariz. Uns miúdos que às seis da tarde estão de pijama fechados numa casa onde as janelas só abrem ao fim-de-semana. Pobres miúdos. Fruto de o sonho de alguém. Recebem o melhor. O melhor que lhes pode ser dado. O melhor. Ironia. Os que tem filhos e os trancam assim. Em casas de bairros. Sem jardim. Sem flores. Sem terra e lama. Sem hortaliça e feijões. Sem amores de calçada. Sem nada que seja uma vida.
Tenho filhos. Aos mil. Que adopto nas esquinas e travessas. Tenho netos aos milhares a quem sorrio na impossibilidade de ensinar. Mas amo-te. Ou não? Os homens que me amaram nunca me leram e os que me leram nunca me amaram. Consequências?
Ontem senti-me só. Mais só que os sós. Mais só que os abandonados. Só de pensar. Só de sentir. Só porque não interessa. Só nesta miséria humana que vejo e revejo. Em mim. Em ti. Em todos. Sinto-me um arrastar pela casa…
Um nome. O meu nome. Virgínia. O teu nome mãe. E a quantidade de quilogramas por preencher nessa alma grande. Há um sentido que procuro. Sempre o fiz. Perdoa-me. As unhas estão sangrando neste verniz cor de mim. Cor de quem quer como eu. E desiste. Quero e desisto. Quero-te mas eu já me afastei. The theatre of tragedy.
Há uma seara de trigo. Nela vê-se uma mulher e um filho. Filho porque loiro e pequeno. E eu que conheço bem as searas de trigo sei que ninguém para nelas a não ser as crianças. Romantismo. Odeio romantismos e lugares de searas. Odeio perder e fazer funerais. Ver-te feliz… dói. Não odeio. Dói. Eu sou a patinho feio com sonho de cisne. E enquanto existirem cigarros por fumar estarei por aqui.
Fumando.
fumando e abrindo das peles do texto.
ResponderEliminarum abraço
jorge
Isto é muito bom!
ResponderEliminarChoro com a tristeza que brota destas palavras. Como é possivel, que uma jovem mulher, confrontada com as diferentes escolhas de vida, escolha desistir, quanta amargura, quanto sofrimento… “Quero, mas já desisti” CAPITULAÇÃO… Rendiçao? Fraqueza? Cobardia? Viver é maravilhoso… ou deve ser, estamos aqui para isso.
ResponderEliminar"A Felicidade exige valentia... "Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta."
Augusto Cury
"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe."
Oscar Wilde
Serei eu? Será que me revejo nestas linhas? Será minha a tristeza que aqui sinto? Perdoa-me estas singelas considerações, nem te conheço, contudo…
Espero que encontres paz.
MUSA ;)
ResponderEliminar"Dia de robe e chinelos"
ResponderEliminarFolha branca á espera,/sem cortes nem censura./uma escrita veloz.../com emendas e rasura.
Não há seguro para o criativo,/que na angústia não cria./se não utilizar um método,/passa o dia na fidalguia.
Dia de criação,/é dia abençoado./resultado de trabalho a menos,/ou de corpo cansado.
Não é dia institucional/de lugar
reservado./Mas dia de robe e chinelos,/e ar de condenado.
Autor das quadras: João Rodrigues
(dosonhoaspalavras.blogspot.com)