quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Lagartas


Gottfried Helnwein - Lulu

Censurado por causa da foto!

Os primeiros perguntam-me pela igreja. A igreja com um nome que não entendo. Indico uma igreja. À esquerda. Mais abaixo. À esquerda. O meu braço desce e pausa no ar. Sinto as mãos bolorentas. A unhas musgosas. Passeio-me de olhos pretos. Semi-cerrados. O sol. A luz. O meu hálito a água estagnada. Fazem-me parar. Querem falar comigo sobre deus. sbre a vida. Sobre a fé. Não paro. Digo que não. Falar o quê? Dizer o quê? Nada. Nada a acrescentar. Apenas esta sede e esta vontade de ir. De não parar. Não paro. Sou incapaz de esboçar sorriso. Tenho sono. Quero dormir. E acordam-me. Acordam-me constantemente. Quero dormir. Estou cansada. E sim, ando bem ejaculada. Fermentada. Tratada. Furada. Rendida. Esburacada. Merecida. Tenho esse andar. Um pé na frente e outro mais atrás. E só me rebolo em camas. Se conseguirem. Tolos, tolo.

Urina. Urina. Urina. Quantas vezes urina? E tu estavas linda. Vestida de rainha. Ou princesa. Vestida de morena. Morena elegante. Trato de ti. Adoro tratar de ti. E da tua boca melosa de chucha. Adoro ver-te de costas. À varanda. Esperando. Fotografo-te. E o rego e alto húmido entre as pernas. És linda. És lindo. De saias ou de calças. Timidez que nos envolve. Visto-te para que te possa despir. Visto-me para que me dispa. Traz-me café. Desarrumamos a casa. Na procura. Gostava de ter a disponibilidade emocional para vestir todos os homens do mundo. Vesti-los de mulher. Tal marinheiro. E sim marca-me. Marcou-me. As pessoas marcam-me. Algumas. Na autenticidade. Senta-te. Quero que te sentes. Namoramos. No sofá. Descaímos e tropeçamos. O cós da meia na tua perna é um rio onde me banhar. Os teus genitais inchados que esfrego. Como os meus.

A rua não acaba. E eu só procuro acender o cigarro. Acaba rua para que te tenha pelas costas. Não a ti. À rua que é desconfortável. Branca suja com cheiro a comboios. Ver pessoas. As pessoas. Que acordaram. Frescas. Perfumadas. Domingo. No espelho da loja os meus olhos. Aceitáveis.

Eu tenho botões em mim. Manivelas. Algoritmos. Descobre. Descobre onde estão. Não te digo. Não posso. Não quero. Se o fizer, não funcionam. Tens de ser tu . Apalpa-me. Tacteia. Tens de ser tu. A pressioná-los. A minha boca encerra-se. Existe sempre um final. Algo que abre, fecha. Algo que começa, acaba. O desejo. Também esse, sim. Ela deseja os sapatos. E ele o carro. Ambos desejam e terminam. Na posse. Na mudança. Como eu. Sem sapatos. Sem carro. Como eu. Na mudança. Na posse. Somos iguais. Galgos.

As pessoas passeiam aos Domingos de manhã. Estranho. Passeiam de vestido. E chinelos. De coloridos. E óculos escuros. Com crianças. E mochilas. Passeiam. Passeiam aos Domingos de manhã. E há quem corra. Mulheres que correm com decotes justos. Músculos definidos. Loiras. Morenas. Correm ao Domingos de manhã. E eu não durmo. Nas madrugadas de Sábado, de Domingo, de Segunda. Não durmo. Não corro. Os meus decotes descaem. A alça do soutien visível. Os peitos de loba amamentadora de Rómulo e Remo. Corpo no espelho. Vou tentar dormir nas manhãs de Domingo. Nesta manhã de Domingo. Vou tentar dormir.