segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gelado


Andres Serrano

É final do dia. E espero-te. Vem. Seja o que TU quiseres.
As chaves prenderam-se na mala. Sinto o bafo a álcool da boca do vizinho que conversa ao telemóvel na janela ao lado. Agonio. No chão uma encomenda. Não há contas, nem cartas. Somente 12 degraus. Em madeira. Sujos. Entro. Espero-te. Tenho saudades da tua pele. Do teu cheiro. Das tuas mãos. Dos teus olhos. Do teu olhar. Da tua voz rápida. Do teu falar alto. Tenho saudades do meu desequilíbrio quando me olhas. Do meu tremer.

Meu Querido. Procuro um amante que me faça esquecer o teu corpo. Matas-me. Procuro um amante que me trate. Que me trate das feridas. Que me acaricie o corpo. Que me beije os lábios. Um amante que me aconchegue após vertigem. Um amante que me seque a humidade das mãos. Um amante que me arranque o teu cheiro em mim. Um amante que me recolha à vida.

É tímido. Bonito. Olhar no chão. Confessou-me que quando o conhecem deixam de querer dominá-lo. O bebé. Sorri. É tentador abraça-lo. Beijá-lo. É tentador.
Nos lábios curvos e carnudos. Nos olhos de criança. Sim. É tentador abraçá-lo. Ele entrou. Escrevia-te. De camisa preta e cuecas. Descalça. Joelhos no chão. Isso minha criança maltratada. De joelhos. Cheira-me. Cheira-me e tenta beijar-me. Fujo. Mas dou-me. Fujo. Mas dou-me. Escrevi. Escrevia-te. Ele de joelhos. Atrás. A meu lado. Até eu terminar a lembrança de ti. Até vomitar o meu amor por ti. O meu querer. O meu querer-te. O meu desejo. Aguardou. De joelhos.
Levantei-me e pedi-lhe me desabotoasse a camisa. Atrapalhou-se nos botões. Aproximei-me da luz para que os visse. Um passo atrás. Vem. Segue-me. Ele não sabe mas gosto dele. Ele não sabe, talvez não saiba mas dá-me tesão. Excita-me ele ser assim. Tímido. A querer-me.

Hoje enquanto caminhava sentia o peito inchado. Visualizava um vulto preto na minha frente. O meu peito. Grande. Enorme. Sentia o peito enorme e inchado. Nunca senti o meu peito assim. Meu Querido.

Entrei na banheira e disse-lhe para me dar banho. As minhas marcas. As que me deixaste sem ver. A esponja na mão dele sobre as minhas marcas. A mão dele que delicadamente me entontecia a pele. Um amante. Que uso para meu prazer. Para que me lamba. Para que me venha entontecida. Para que cuide da minha pele, do meu corpo. Procuro um amante. Um outro. Sim, meu querido, não me basta um. Necessito de um outro. Um outro que me foda. Me foda com mãos no cu. Lentamente. Entre todo em mim. Lentamente. Me beije o pescoço. E as costas. E os pulsos. Me lamba os ante-braços. Me diga palavras bonitas. Me acaricie o cabelo.
Sim meu amor não me basto.

Sem comentários:

Enviar um comentário