segunda-feira, 6 de julho de 2009

Hortaliça


Diane Arbus

Sinto-me carente. E não é carente de afecto. De carinhos e festas na cabeça. De beijos nos lábios molhados. Não é essa carência de olhos brilhantes. Ainda que visualize beijos apertados e salgados. Braços nos seus braços. Dedos enrolados. Nele. No meu mais que tudo. No bicho homem por quem me apaixonei. Mas estou carente. Carente de carne. De língua na cona. De toque de pele. De membros a pino. Sinto-me carente de uns dedos que não os meus nas minhas entranhas. Toco-me. Dedilho nos mamilos. Mas sinto no mamilo e sinto no dedo. Quero sentir apenas no mamilo. Quero molhar os mamilos com saliva que não a minha. Sentir uns dentes que não na minha cabeça. Sentir agarrarem-me nos seios por umas mãos que não me pertencem.

Estou carente.

E ainda que seja mais do que esta carência é desta que falo. Pois é desta que não falo. Que guardo. Que calo. Que escondo. Que finjo não existir. Que estou bem. Que estou calma. Que tenho uma vida preenchida para além das relações e do sexo e do amor e do afecto e do D/s e da foda molhada.E sou eu. Sou eu que sou assim. Sou eu que me deito e dedilho em mim. E no final o espasmo de vazio. De uma falta. De qualquer coisa. E na impossibilidade de seduzir. De me mostrar uma mulher interessante. Um mulher que pode e deseja ser comida. Na impossibilidade de engatar. De me vestir para atacar. De fingir que estou interessada. De ter conversas parvas. De me revelar quem não sou. Na impossibilidade de ter um toque de pele. Normal. Banal. Mas um toque. Nessa impossibilidade jogarei o jogo que melhor conheço. Um jogo que eu controlo. Um jogo onde não existem inseguranças. Sou eu quem mando. Sou eu quem coordena. Sou eu que diz. Sou eu que ordena. Sou eu quem se vem primeiro se assim decidir. Sou eu quem diz pára. Sou eu quem diz avança. Na honestidade disse-lhe: estou apaixonada e preciso descontrair, relaxar, gemer, vibrar, gritar. Estou apaixonada e quero apenas a tua língua. A meus pés a tua língua. Entre as minhas pernas a tua cabeça. Nas minhas coxas o teu cabelo. Nas minhas mãos as tuas orelhas. Rápido, rápido. Instintiva. Veremos. Veremos. Veremos se vou conseguir respirar. Se as remelas me caem dos olhos. Se me esboço brilhante em frente ao espelho. Se sacudo o peso diabólico que tenho nas costas. Se consigo viver platonicamente mais leve.

Eu podia ter um jardim mas tenho de me contentar com a árvore. O jardim precisaria de ser regado e eu ainda não fiz o furo. Talvez depois faça antes uma horta.

3 comentários:

  1. Uma árvore pode realmente ser mais pequenina que um jardim. Nao obstante pode ter o tamanho dos nosssos braços e nao a vastidao absurda do mundo. No limte nao sei o que e uma pessoa interessante. Sei que es um ser humano. Com muita belza nas suas contradições. Com muita coragem para as exibir tambem. Com muita coragem para tudo partilhar. Que sempre inspirou as minhas lagrimas e o meu riso e por muitos anos espero que continues a inspirar. Es tao bonita e tao rica Esquilinho. E essa riqueza traz dor. Nao te reduzas na banalidade das vidas secretas dos outros que sao na sua maioria tao vazias. Talvez tudo passe realmente. Mas as histórias que escreves e que mostras, certamente vao continuar

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  2. Estes teus textos são uma surpresa muito agradável:

    Estes teus sentimentos ponderados, mas ao mesmo tempo fogosos, pensados, retidos, mas cheios de paixão, são uma linda forma de mostrar sentimentos.

    Sinto-me honrada de partilhar estas tuas vivências e estes teus sentimentos, estas tuas formas de ser Mulher.

    Obrigada.

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  3. uma puta
    duas putas
    três putas

    um curral de putas

    de uma puta
    que se há-de esperar?

    que não seja puta?
    se assim fosse
    não era puta

    e é de putas que falamos
    putas que lambem
    que se vêm
    e que fazem vir
    ou que deixam vir

    putas que querem mais
    sempre mais

    tudo

    porque são tudo
    porque podem ser tudo

    uma puta
    duas putas
    três putas

    com quantas putas
    se faz um bordel?

    por vezes nenhuma
    e mesmo assim se tem o bordel
    porque um bordel não precisa de putas
    precisa de prostitutas

    a puta não precisa de um bordel
    precisa de uma cona,
    e um caralho
    se for uma puta básica

    uma puta mor
    só precisa de uma cabeça

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