quarta-feira, 8 de julho de 2009

Bicho


Misha Gordin

Espero-te. Sentada. De pé. Caminhando. Arrumando. Sentando-me. Sorrindo. Roendo as unhas. Antecipando. Antecipando-te. Imaginando-te. Fantasiando. Sentido e sentindo-te. Fumando. Dois, três cigarros. Olhando-me. Observando-me. Tentando estar calma. Tentando entregar. Querendo-te. Vivendo-te. Espero-te.
E não sei. Não sei se rirei. Se chorarei. Se fico calada. Muda e calada. Que se faça escuro para que os teus olhos não encontrem os meus. E que a porta não se feche nunca contigo do lado de fora. Porque é dentro que te quero. De mim. Da minha vida. De mim. E outra vez. Novamente. Com força. Até à exaustão. E não me olhes. Não me olhes. Se me olhares eu perco o sangue. E que música? Que música ouviremos? A tua garagalhada. A tua voz chamando-me de puta. O som da tua mão em mim? Quero-te. Agora. Aqui. Sentes? Ainda me custa a acreditar. Dois dias. Em dois dias. Tudo muda. Num mês. Numa noite. Tens a noção de quanto te quero? E em como tudo isto é excessivo? Espero. Espero-te. Vem. Hoje. Esta noite. Aqui. Desde que te amo perdi a minha angústia.
E S P E R O.

T U A.

2 comentários:

  1. A morte e a fantasia secreta do que ama. Seja Kafka, Romeu ou Julieta. A morte como possibilidade última de fixar a tensão da paixão. De a eternizar. Na ausencia desta está o casamento burguês (na falta de melhor termo, uso um da minha juventude estudantil). = tempo conspira contra a paixão, a banalidade e a rotina também. Não sabemos o que aconteceu a Cinderela, ou à Brancaa de Neve. Ficaram amortalhadas pelo avental doméstico? O príncipe passou a ir às putas, e a jogos de futebol?

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  2. Tu es um ícone. A minha nossa espera fez de ti um ícone. Como uma pintura abstracta ou uma carta de Tarot. E o amor e o desejo que realmente quero. Sou uma vagina dentada. A Madame Bovary. E tu es apenas um degrau para todos os demonios e fantasmas que invoco. A literatura esmaga, os conceitos esmagam. Mas primeira e tambem a possibilidade de utopia. Quanto mas escrevo, mais passo por ti e me encontro a mim. A arte da fuga. Deixando os meus indicios para que os farejes. Para que alimentes a memoria e a minha nossa fornalha. Ad nauseam.

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