sábado, 1 de agosto de 2009

Bounty


Albano Ruela - Bona Lisa

Queres amor? Queres? Pois espera. Senta-te e espera. Nessa cadeira plástica castanha. Tu que detestas castanho. Que é uma cor que não é nada. Feia. Escura podendo ser clara. Sem sabor. Com cor de fezes. Senta nessa cadeira plástica castanha que te envolve o rabo em malga. Senta. Com as costas tortas e o corpo afundado. Entorta-te nessa cadeira castanha. Espera. Lembras dos dias em que esperavas por pão com manteiga? É semelhante. E a mão que o dá poderá ou não aparecer. Se existir pão quente. E se existir manteiga. Ou faz de conta. Faz de conta que marcaste. Pão com manteiga dia 12 de Novembro de 2030 pelas 15:43. Agora é só aguardar. Esperar. Pelo dia do pão quente com manteiga.

Oh pobre alma mas crês que com esses jogos me conquistas? Eu, que cobra, rastejo aqui à uma eternidade? Eu que consigo fazê-los pensar que são todos especiais. Que todos estes textos são para eles. Todos me lêem e revêem. Todos pensam que falo neles. E falo em algum? Por vezes. Por vezes. Mas sei onde e quem. E sei quem se engana. Quem se ilude. Sei. Mas traz-me esse copo vazio para que o lave. E esse outro aí do lado. Não chores. A loiça quer-se bem lavada e as lágrimas têm gordura agarrada. És uma Mariana, uma cigana. Uma descrente. Mais uma que não reza. Que não acredita. Que amargura nestes dias de telefones e montras. De venha a mim rápido. Venha a mim o que se compra. Tudo o que se compra. Tu que gostas que te dêem coisas que não se compram. Que se constroem, que se roubam, que se imaginam, que se encontram. Pedras, terra, areia. Lembro-me do dia em que comeste terra. Lembras? Soube a... terra. Soube ao cheiro. Mais próximo que qualquer outro alimento. Mais.

Assim que acabar este texto vou limpar este teclado. Imundo...

Existe uma música que me impulsiona. Que me faz feliz. Que diz não existir mais ninguém a quem torturar. E é. É. É uma violência se o fizer. Eu que adoro amarrá-los e dedilhar na frente deles. De senti-los a crescer. De observar os espasmos. O desejo. Mas puta. Sempre puta. Sempre a querer. Sempre a querer finalizar. Sou incapaz de não terminar. De não me enterrar. E a música fala de Berlim. Onde te perdeste. Onde me perdi. Entrei num autocarro e só saí quando ele terminou. E repeti-me nesse andar sem destino. Não quis saber dos museus. Nem da história. Nem dos monumentos. Nem do Charlie. Nem de nada. Quis apenas perder-me. Se pudesse perdia-me no mundo. Vagueava. Procurando. Procurando-te em todos os homens. Em todas as mulheres. Faço enterros. Quantos enterros faço por dia? Quantas covas tenho de abrir? Tenho calos. E a puta da pá que está gasta. Despeço-me. Vou antes casar iludidos. Vê-los vestidos de branco. Até. Até que um deles decida perder-se nos braços de um outro vestido de vermelho. Que insanidade. Que estupidez. Como é possível comprarmos a fidelidade? Acreditarmos nela? Como se 10 anos fossem os dois primeiros meses.

Eu tenho um cinto de ligas preto. Quando o coloco sinto-me a Miss Piggy. A porca.

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