sábado, 29 de agosto de 2009

Eu não sou tu


Daniel Weinstock - mujer

Os sapatos deixei-os onde viste. Estão ali. Junto ao sofá. Há... há quantos dias? Quantos? Não conto. Não conto. Só conto histórias. E estórias. E conto contos. Contos de fodas. Sim fodas. De entrar e sair. De conas. De cus. De caralhos a apontar ao céu. Baralhado? Não? Óptimo. Agora vou estender roupa.

Vou entrar no cofre e sentar-me no sofá. Contigo. No sofá rosa. Ou no vermelho. Vou beijar-te e apalpar-te os mamilos que não tens. Vou esticar-te as peles. Pronto. Eu cedo. Eu cedo. Porcaria de água que me trouxeste. Sabe a cadáveres. Sim, sabe a mortos. Os mortos tem este sabor. Já sodomizei uns quantos. Rio-me. Pecadora.

Não sei se tenho saudades tuas se da forma como era quando te amava. Do melhor que transparecia em mim. Do que fazias despoletar em mim. Mas sinto-te a falta. Ontem chorei. Não por ti. Não por mim. Porque... porque não gosto de perder. E perdi. Perdi porque afinal sou ainda mais pequena do que julgava. Não consigo dar o que queres. Não consigo. Seria violentar-me. E eu não consigo violentar-me assim. Só bêbada. E o álcool deixou de fazer efeito em mim. Depois do etílico que me ardeu no estômago. B. De bicho. B. De bicho homem. B. B.

O sol na minha pele tem sido uma carícia. O sol virou meu amante. É ele quem me dá prazer. Me beija o pescoço. Os lábios. Me aquece. Se faz sentir. O sol tem sido meu amante. O meu melhor amante. Nestes dias de sol sinto-me preenchida. Por ele. Quando o sinto. Quando saio para comprar alfaces. E queijo fresco. Sinto-o nas costas quando fecho a porta. E sei que lhe sou única. Os que se sentam na esplanada em frente não o sentem como eu sinto. Ainda que debaixo do mesmo. Ainda que ali durante horas. Os meus minutos de caminhar são nossos. Fode-os. Ama-me. Fodo com outros mas amo-te a ti sol. Eu que não consigo foder com quem amo.

Chega de palavrões. De obscenidades. De sexo. Falemos em afecto. Comecemos nos nossos pais. As referências. E ele ali ficou. A discursar. Eu deslizei e fugi por baixo da mesa. Tinha uma toalha azulão. Gatinhei e ainda tropecei em dedos enfiados em tiras bronze. No bar comi o empregado. À bruta. Comi-o. Engoli-o. Só deixei uma unha apodrecida sobre o balcão. Agora estou aqui cheia e não consigo arrotar. Mas os barcos passam no rio e eu começo a sentir-me feliz. Afinal todos eles deixam rasto.

Fumas?

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