quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Aleluia


Richard Avedon

Tu queres. Eu quero. Mostro-te-me. Crio palavras. Recrio-me. Para ti. Em função de ti. Redescubro-me. Redescubro-me-te. Revelo-me. Em ti. A ti. Tu sabes. Tu sentes. Tu queres. Verdadeiramente? Não sei. Nem eu sei. Sabemos? Queremos. Começamos a querer. O beijo. Os beijos. Descobrir. Os corpos com a mente. Começando por cima. Indo até ao baixo. Passando pelos lados. Lambendo as arestas. Sugando a essência. A minha. A tua. Diferente. Queres diferente. Diferente. Quero diferente. Especial. Queres-te especial. Especial. Entras assim. Porque queres. E só assim eu noto. Só assim eu vou. Nada a perder. Tudo a perdermo-nos.

Vou dar-te a ouvir a minha melodia. A que fala em amor. Em entrega. Em comunhão. Partilha. A que suspira. E geme. E entontece minha alma. Traz-me paz ao espírito e uma impossibilidade grande de me fazer sentir. Só sentindo. Só vendo. Cheirando. Tocando. Ouvindo. Ouve comigo a minha melodia. Que me penetra o corpo. Pelos poros. Que se liberta nas mãos, nos braços, no tronco, nos seios, pela boca, pelo meu olhar. Em ti. O meu olhar em ti. É uma melodia de amor. De quem dança o amor. É de uma paz terrífica. Tão grande que pode levar ao desespero. Tão bonita que pode assustar. Tão complexa que muitos não a entendem. E outros nem a ouvem.

Embala-me. Nos teus braços embalo-me. Leva-me. Deixo-me ir. Vou. Quero. Quero-te. Anda. Vem. Toma-me como tua. Tira-me este cigarro da boca e lambe-me os lábios. Mordisca-me os lábios. Movimenta o meu corpo. Segura-me nas mãos e empurra o meu corpo de encontro ao teu. Puxa e apalpa. Toca. Faz-me girar. Suspirar. Gemer. Chorar de tanto te querer. Chorar por ser tão intenso. Olhar-te e não ver. Não ver nada vendo tudo. Não ver nada pressentindo tudo. Não ver nada porque os olhos não tem poderes de sentir. A mente. Somente a mente. Libertada. Sensorial. Em ti. Em nós.

Vou sussurrar-te este meu desejo. Por ti. Por querer-te. Por ser assim e tu saberes-me assim. Por seres como és e quereres que eu saiba. Porque os dias podem ser noites e as noites dias. Porque viajamos agora. E sempre. Porque queremos ir mais alto. Voar. Enlaçados. Porque a droga está em nós. E o vício. E a vontade de estar. E ir. E estar. E estar sempre. Agora. Amanhã. Ontem.

Eu caminho. A medo. Medo do Puf Paf. Do Paf Puf. Não de ti. Não do que me possas trazer. Não tenho medo de sofrer. Não tenho medo de ser magoada. O que resta é sempre mais que isso. Que uma mágoa. Que uma dor. Medo da não concretização. Da frustração. De um começar que não começa. De um querer que se esvai. Que se esvai depois de contido. De prisioneiro vira rio e desagua sem força. A pressão. As lágrimas. Os derrames. Mas sabes sou assim. Grito. Grito e grito-me. Aguardo que me silencies. E que mistures os teus gritos aos meus.

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