quinta-feira, 20 de agosto de 2009

É o que é


Franko B

Entra. Entra. Sentas? Não. Não sentas. Eu sei que não sentas. Vens e tomas. Tomas e partes. De ténis calçados. De roupa despida. Entra. Senta. Pára no meu olhar. Com as mãos no meu colo. Mexe-me. Sorrio. Falas. Falas. Ai. Cala-te e fode-me.

Este sofá que me recebe é grande. Frente a vocês sinto-me confortável. Sinto que os dias podiam ser assim. Quentes. Com vento vindos de uma janela fechada. Com armários de cor com papeis que desconheço. Vocês dois aí em frente de mim. Em frente da mesa. Da secretária. Tem nome? Sei. Sei que tem. Mas eu esqueço-me. Eu só me lembro do meu nome. Qual? Aquele que me foi dado. De donzela. De virgem. Tenho saudades tuas. Vens a minha casa e jantamos fruta.

Não contes a ninguém. Não fales do que calo. Do que omito. Cala-te. A minha mãe tem a cabeça branca. E nas mãos a sabedoria de quem ensinou. No Maquiavel na mala. E nos comboios que partem. A minha mãe é diferente de mim. Tem cara de cavalo. É algarvia. Tem cabelo de arame. Ou tinha. Tinha. Tenho o cadeirão dela. Herdei o cadeirão dela. Aquele onde as cordas se prendem. As que estão no estendal. Vou dizer-lhe adeus um dia. Sabemo-lo. Nós que choramos. Um dia...

É de madrugada. É cedo. Uma cona fodida é maresia.

Eu demorei muito tempo a conseguir lançar o pião. E a assobiar com os dedos. Fui precoce com as letras. E os pintainhos. Mas vamos dar um outro ritmo. Vamos dar um ritmo cavalar de drogas. Das que não tomo. Foi um crime. Um crime ela deitada nas escadas. Morta. Aparentemente dormindo. Foi um crime. Pensei se tinha sido eu a matá-la. Eu que matei a minha vizinha da frente. A velhota da minha vizinha da frente. Matei-a do coração. Matei-a de falta de vergonha. Matei-a. Não aguentou o que via. O que viu. O que ouvia. Ai. O que ouvia. As palavras... Cerrava as janelas. Fechava-se. Devia tomar comprimidos para domir. Para esquecer desta puta da vizinha da frente. Eu cavalgando nele. Senti-a. Pressenti-a. Eu cavalgando nele olhei-a. Vou? Não vou? Cerro a cortina? Deixo-me estar aqui enterrada? Vou? Mas eis que o dia decide. Apressa-te. Apressa-te. Um susto. Que susto. Que vergonha. A dela. A minha foi orgasmo. Sentada na tua cara. Nunca mais a vi. Acredito que tenha tombado. Caído. Que tenha putrificado junto às portadas verdes. Que a tenham encontrado com um esgar na boca. De susto. Que susto.

3 comentários:

  1. Temas sugestivos, sempre sensuais... ;) Bj gata

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  2. Não seria decerto a primeira epifania impúdica da Sra. ;). Nadas temas. Nada de culpa. A culpa atrasa e não melhora seja em que situação for. A memória essa sem dúvida é necessária. "Trazer o inconsciente ao consciente".

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