terça-feira, 13 de outubro de 2009

Água


Paula Rosa - Meta For

- Falta-me algo...
Não sei o que te diga. Silencio-me.

- Falta-me algo.
Interrogo-me.

- Falta algo...
Sim. Eu sei.

- Algo que...
Que não sabes. Que não sabemos. Saberá alguém? Esta insatisfação presa aos cabelos que despenteamos para sentirmos a vida. Como se a vida se pudesse desgrenhar e mover com o vento. Como se a velocidade fosse condição à vida. E o sentir tivesse de ser constante. Às pernas só é dada a condição de movimento. E do repouso tem-se medo.

- Sinto que...
O afecto nos faz falta. Mas nunca nos bastamos com ele. O amor nos preenche, mas deixa sempre espaço vazio. Os filhos crescem. Os pais morrem. Os amigos zangam-se e esmorecem. As fodas são somente fodas. E as namoradas perdem-se entre o trabalho e os copos.

- Há algo que...
... gostarias de fazer. Mas o quê? O que falta? Faz-se tudo sem saber. Faz-se nada. Inicia-se sem dúvidas e no final em gargalhada a questão o que estou eu a fazer? Bebe-se um copo. Embebeda-se a mente. Fuma-se drogas, embala-se o corpo. Mas que raio...

- Falta-me algo.
Procura deus. Deus é pequeno. Deus não enche quem não o quer. Aliena-te como te for possível. Eu... eu não te sei responder.

3 comentários:

  1. De facto um dos grandes problemas da existência é saber o que fazer com ela a saber:

    A) Conversão religiosa. Mas isto é algo que não pode ser aprendido, pois temos que percorrer primeiro a Estrada de Damasco

    B) Renunciar ao desejo segundo a doutrina budista. Mas como viver sem desejo, mesmo que não se seja muito freudiano. Ainda assim permaneceria o desejo de ser... budista.

    C) Não pensar e deixar correr. Mas quem pensa sobre o que deve pensar ou fazer, já ultrapassou tal possibilidade de solução.

    D) Seguir a tradição cultural da sociedade onde estamos inseridos. Acabamos por fazer um pouco isso, mas ainda assim se tivermos um espírito livre, não resulta muito bem.

    E) Pensar que tudo é absurdo e portanto todas as escolha são iguais. Ponto de vista perigoso se levado às últimas consequências. No fim do desejo, começa a morte

    Acrescentaria ainda que mesmo depois da decisão tomada o problema subsiste em relação aos extremos. Talvez ter uma esposa ou uma namorada seja agradável, mas facilmente podemos chegar assim ao mandamento Kafkiano: "Tens de possuir todas as raparigas". (Diários, pp. 372 na edição da Difel. Somos todos adictos de algo e quando tomamos consciência disso, o caminho de volta se isso existe, parece muito longo e temos medo do restante que se vislumbra....

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  2. ena que ganda blog .. vai ser dificil por a leitura em dia mas vou tentar ler alguma coisa :D

    bjs

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