terça-feira, 30 de junho de 2009

É


Diana Michener - Solitaire

As minhas pernas moviam-se. Eram dados passos. Mas a calçada que pisava era sempre a mesma. E ao lado corria um cenário com Lisboa. E eu andava. Podia correr, mas andava. E olhando para o lado visualizando Lisboa parecia que quem andava era ela. Eu mantinha-me parada. Como num tapete rolante. As casas brancas e amarelas. Os telhados, as pessoas sentadas nos bancos de jardim. Eu imóvel. E quem passava passava numa tela. Eu imóvel. E quem estava, estava numa tela. Eu parada num turbilhão de pensamentos. O fumo pairando na água, o tal. A tal névoa entre os meus olhos.

Olhei para o lado oposto da tela e vi o bairro com pessoas sentadas nos degraus das portas. Fumando cigarros. Conversando. E eu parada, imóvel. E lembrei-me das vezes em que parada me tinha sentado ali. Fumando cigarros. Esperando. Esperando pela noite. Ou pela madrugada. Ou mesmo a manhã. Esperava. Esperava que algo mudasse. Não eu. Algo exterior. Eu mexia-me mas apenas porque a tela se deslocava.

E ele chegava e levava-me a beber. Bebíamos.

A morena não estava lá hoje. Não estava sentada à esquina. Eu passei e espreitei. Senti-lhe a falta. A falta do sorriso. Do Bom Dia. Do olhar mel. E sorri. Ainda que parada sorri. Sou uma mulher de sorte. Ainda que parada. Atraio beleza. E riqueza. E tudo o que é bom neste mundo. E atraio as moedas que coloquei na máquina para comprar bilhetes. Deu-me os bilhetes e devolveu-me o dinheiro. Obrigado máquina. Sentiste que eu hoje precisava de um carinho.

E o que é isto? O que é isto?
Não sei.

É.

1 comentário:

  1. Tanto as pessoas como as cidades têm uma história. Naturalmente com ruas avenidas e becos... Talvez as cidades sejam mais perenes, pois não têm o eventual ónus de justificar a sua memória. Contam com palavras como as tuas para isso :)

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