terça-feira, 30 de junho de 2009

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Christian Vogt - Sabine

Perseguem-me. Os olhos. As mãos. A boca. Perseguem-me. Tudo aquilo que não cheguei a conhecer é o que me persegue. A voz é difusa. Ou não. Se pensar nela junto ao ouvido. Num sussurro. Ai. Aquela imagem pela metade. Estás bem? Como poderia estar mal. Desde que te conheci virei luz e sal e água e vento. Lembras-te de como era antes? Antes de nos tocarmos? Era tudo igual. Era como se o mecanismo do nosso relógio estivesse parado. Um relógio. Não fiz por querer. Eu não sabia. Era de noite. Estava escuro. Creio que ninguém me via. Poderiam ouvir-me mas não ver. Eu gritava silenciosamente. E apareceste. Ai.

A janela está aberta. Entra vento pela janela. Tenho um horizonte. Verde. Verde árvore. Verde Verão. Verde calor. Mas o vento ensina-me.

Traz-me uma prenda embrulhada em papel azul cetim com laço de tecido.

Não fazes sentido.
Alguma vez fiz?
Quem sente, muitas vezes não faz sentido.

Acordar. Escrever. Deitar. Ouvir. Trabalhar. Escrever.

Esta noite vou soltar-me no escuro. E empapar-me em luzes e café e serenatas e ruas.

Não fazes sentido.
Não.
Não faço sentido.

1 comentário:

  1. Interessante é sempre a eventual confusão semântica entre o sentido e o sentir. Devemos sempre desconfiar da etimologia.

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