quinta-feira, 22 de julho de 2010

BLACK WOMAN WOMEN'S FLAT ITALIAN SHOES 38 5 LEATHER


Ron Mueck

Cabrão. O cabrão do candeeiro alcachofra não cai. Não parte. Não se estraga ou avaria. O cabrão do candeeiro alcachofra que herdei não se estica ou encolhe. Não se esmifra ou incha. O cabrão do candeeiro alcachofra…

Há um outro. Um candeeiro alcachofra na memória da sala de jantar da minha mãe. Anos e anos naquilo. Naquela visualização da racha na parede. Porque é das rachas na parede que mais detalhadamente me lembro. A racha em forma de cabeça de bebé do meu quarto. E a assinatura. A assinatura de um quadro na sala. Aucap? Alguém se chama Aucap? Alguém se chamava Aucap.

Bolas de Berlim recheadas e folhados de salsicha na praia com robes e tocas de turco branco às flores. Vivas. Vivo. Vivi.

- Pai…
- Vem jantar. É rancho à beirã.
- Pai…
- Tsu ktzu pu tru pus tu
- Sim.

O que não termina sabe a saudade.

Vou trabalhar. Depois do vinho.

- A salada está temperada?
- Vocês…
- Oh Zé… já te disse…
- Ou há navalhada ou recuso-me a aturar-vos.
- Ninguém faz um assado assim.
- Faço eu.
- Um pássaro.

Hoje fiquei a saber que te trato como um inútil. Será? E vejo-a doente. Doente como as batatas na loja dos monhés do Bangladesh. Baralhada. Completamente confusa. Atrapalhada. Aguardando uma faca que a espete. Mas na minha gavetas por abrir não existem gumes amolados.

Bells. Cintura.

Falta-lhe a música para agitar a cabeleira despenteada. Bonita. Sorriso bonito. A música...
Ele dorme e eu aqui. Ele dorme e eu aqui. Eu aqui e ele dorme. Eu aqui e ele dorme. Até ao infinito. A reptição fascina-me. Entra e sai. A repitação atrai-me. Cospe e engole. A repetição obececa-me. 1.2.3.4.1.2.3.4.

Amarelo como a urina.


E hoje vi os pés mais lindos numa mulher. De unhas cristalinas e dedos perfeitos. Lindos... decepei-os. No congelador a memória de uns passos para os quais eu nunca olhei.

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