quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Neve entre as pernas


Eugène Atget

Há algo que se mexe nas minhas costas. Sinto mas não olho. Evito olhar. Com medo de te ver. Que sejas tu. Afinal não estás aqui e eu sinto-te. Mas algo mexe. Que mexe atrás de mim? Que se mexe? Quem se mexe? És tu? Tu que não estás. Serás? Não sei. E nesta dúvida sento-me. De costas. Sempre de costas. Para que não me assuste olhando nos teus olhos. Para que não gema quando o teu olhar cair em mim. Sento-me e mantenho-me assim de costas. Afundo-me na cadeira. Tacteio os braços de madeira. Sinto a idade dos mesmos. Levemente. O meu sentir está nas minhas costas. Está na parte detrás de mim. O soutien prende-me os seios e eu quero respirar. Quero tirar o soutien. Quero poder despir-me em isolamento. Intimidade. Mas algo se mexe por trás de mim. És tu?
 
Há um segredo.
 
Culpa.
 
Lentidão.
 
Gin tónico.
 
No andar abaixo do meu uma mulher embriagada canta canções da Colômbia. No andar acima dela uma mulher com vontade de estar embriagada senta-se a uma mesa. No andar em frente ao meu um casal ama-se. No andar em frente ao deles uma mulher deseja amar. No andar abaixo do meu uma mulher discute com um homem. No andar acima uma mulher vive sozinha.
 
Cantemos. Em coro. Em coiro. Cantemos.
 
Há dias que a minha obscenidade atinge picos de loucura. E hoje. Somente hoje. Só por agora. Ejaculava-me no cu e lambia-me.
 
Agora. É agora.

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