Willian Ropp - Silence
Uma caminhada. Um processo. Lento. Devagar. Molengo. Sem vontade. A medo. Angustiante. Por vezes. Às vezes. Nas vezes em que sentando-me na ponta da cadeira olho em volta e pondero o que fazer. Onde ir. Ao que me dedicar. Eu, a dos projectos. E dos objectivos. E dos quereres. E das vontades. E dos desejos. E do ir. E do vai. Férias. Vou tirar férias. De mim. De tudo o que me rodeia. Essencialmente de uma parte de mim.
A irritabilidade. A incompreensão. A intolerância. Em mim. Agora. Nas bainhas por fazer. Nos cadernos por enviar. Nos desperdícios. Nos meus desperdícios. De carne. De suor. Não. Não há lágrimas. Não há lágrimas que resistam a esta violência. A este empastado de alienação. A esta intensidade e medo de morrer. De não sentir. De não ser alguém. De ser o que sou.
O telefone tocou. Não atendi. Não quis atender. Duas vezes. Não atendi. Os telefones já não trazem toques banais. Convencionais. Toques de telefone. Trazem tudo menos toques de telefone. Vou fazendo. Fiz muito. Ontem. Antes de ontem não. Foi cansaço. Um sono. Uma vontade de matar o corpo. Ontem. Hoje não. Uma decisão. Sem coragem.
O telefone tocou. Não atendi. Não quis atender. Duas vezes. Não atendi. Os telefones já não trazem toques banais. Convencionais. Toques de telefone. Trazem tudo menos toques de telefone. Vou fazendo. Fiz muito. Ontem. Antes de ontem não. Foi cansaço. Um sono. Uma vontade de matar o corpo. Ontem. Hoje não. Uma decisão. Sem coragem.
É mentira. É tudo mentira. Somos sempre sós. Momentaneamente partilhamos. Mas o fundo descobre-se. E temos novamente de nadar. De voltar à superfície. Ou não. Matamo-nos. O buço cresce-me à velocidade das unhas. O verniz estala-me. Os olhos murcham. A barriga incha. Vou esventrar-me em sangue. Sentir os pelos encravados. Cheirar o meu suor. Rir-me das minhas fezes cor de terra argilosa. A minha intimidade é além. Além deste corpo. Que já dei. Entreguei. Violentei. Vendi. Enganei. Saciei. Comi. Devorei. Torturei. Anulei. Em mim. Eu. Em mim.
Alimento com sensações. Só com estas e através destas voltei. Só assim. O equilíbrio nunca me impulsionou a criar. A escrever sobre paredes. E ervas daninhas. Começo a gostar de mim. Não morrerei sem tentar. Eu urino na frente de todos. Um acto. Comer. Dormir. Roncar. Urinar. Ronco. Ronco. Acordo. Tenho tudo aquilo que se esconde. Cuecas sujas ao final do dia. Gotas de sangue. Pelos. Baba na almofada. Borbulhas e pontos negros. Cu sujo. Cheiros intensos. Suor. Escarros verdes. Unhas encravadas. Buço. Impurezas. Herpes labial. Tropeço no caminho. Em preguiça. Em tristeza. Em frustração. Em não ser especial. Apenas mais uma que aqui anda. Mais uma que aqui tenta ser alguém.
Eu podia dar a mão a alguém. Mas sou arrogante. Demasiado arrogante. Na impossibilidade tento bastar-me. E às vezes sou pedra. E cega. Às vezes sou um umbigo. Redondo. Como um poço. O poço onde estou. O poço que um dia em repetição cavei. E é nas palavras, sempre nas palavras que sublimo tudo o que é primordial. A angústia e a culpa. Sou filha de uma procura que não acaba. Que não tem fim. Caverna. Túnel.
Este fim-de-semana vamos fazer um piquenique. Tenho saudades tuas. Fernando.
Este fim-de-semana vamos fazer um piquenique. Tenho saudades tuas. Fernando.
Este título fez-me lembrar outra palavra que eu adoro Hedonismo ;) quiçá por gostar de prazer... Bj
ResponderEliminarEncantatórias, as palavras - como quase sempre são nas frases curtas. Ressoam, umas mais do que as outras. E as que ressoam mais fazem as restantes dançar em seu redor.
ResponderEliminar(um sinal da retribuição à tua visita. Embora incógnito até agora, muito tenho deambulado por este recanto)
A civilização mais que uma luta contra a nemesis do caos, é uma admissão honesta da existência e do necessário convívio com este. É muito ténue a diferença que separa um idealista de um fanático, é também astutamente gradual....
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