Barbara Crane
Eu sento-me na mesa do canto. Aguardo por ti. Nas mãos um rosário de plástico brilhante. Vou rezando Pai Nossos. Ou serão Avé Marias? Não me perguntas. Não queres saber de nada a não ser olhar-me nas mãos. Ouves os meus lábios baixinho. Rezando. Orando. Estranhas. Estranhas que não estando lá, eu, esteja e te espere. Naquela mesa do canto. Espero que chegues. Que venhas. Que venhas ao meu encontro. Que te sentes na cadeira a meu lado. A que me pedem para levar. E eu deixo. Dar-te-ei a minha e ponho-me de quatro debaixo da mesa. Para te ver debaixo. Porque debaixo há sempre magia. Para que possas abrir as pernas comigo a fazer de sela. Debaixo. E de cima. Teme. Teme porque um dia levanto-me. Teme sem medo. Mas teme. Excita-te. Vou possuir-te.
As escadas de pedra tinham dez degraus. Creio que eram dez. Ou onze. Um aqui. Outro ali, outro acolá. Gastos, lisos, brilhantes. No Inverno alguns faziam pequenas poças. E sempre o medo. O medo de cair. O medo da vertigem daquele precipício. O medo de escorregar. De cair com os dedos sujos de massa de pão. Ai. Dá-me a mão. Subia. Um a um. Pé num. Pé no mesmo. Devagar. Os degraus serpenteavam a fachada da casa. E no topo alguidares vermelhos cheios de farinha. Posso? Empastava a boca da massa amarga a saber a campo. A Ti Casimira sorria-me. Sempre velha. Sempre igual. Come gaiata. Come. Azeda no estômago. O quente que está. A brasa no meu rosto. Obrigado Tia. Posso comer mais um bocadinho? Enfiar o dedo nesta massa amarelada e espessa e lambuzar a boca. Esconder os dedos sujos. Limpá-los nas calças. Obrigado. É amarga. E vira e revira o pão no forno. E a arte de trabalhar com a pá. De puxar e empurrar o pão no forno. Um dia também quero. Agarrar-me a esse pau e revirar o que estiver na sua ponta.
Vamos. O tanque está sujo. Vamos tomar banho com os limos e as canas. Vamos.
Ela atirou-se de barriga. Ponho um pé. Ela arrasta-se de costas. Ponho um pé. Empurro umas canas que flutuam. A minha mãe diz que tu és meio parvinha. És? Mas gosto de ti. Como gostei da Maria. Engravidaste aos treze. E tiveste de ser mãe quando nunca foste filha. Conheceste os prazeres da carne quando eu ainda me perdia pela boca com mãos nas ervilhas mamas. Eras tonta. Tu com o nome igual ao da minha irmã que não te falava. Por seres assim tontinha. Fascínio. Desejo por ti. Nos teus caracóis loiros. Sujos. O comeres a erva dos coelhos. O riso. Esse riso dos pobres de espírito. Poderoso. Deves ter dado o teu corpo com a mesma passividade com que entravas no tanque de água suja. Eras tonta. Mas eu entrei também. Queria ser tonta. Como tu. Afinal o teu sorriso era uma manhã de Sábado. Era o pátio do recreio. E pinhões já sem casca. Tonta. Tonta tu e tonta eu. Lembro-me de sentar no degrau junto à cruz e olhar-te. Uma matulona brincando com miúdos. Linda. Mulher. Rapariga. Mamas grandes. Corpo formado. Brincadeiras de apanhada. E os risos. Que risos. Uma força. Um íman. Mãe quando for grande quero ser assim. Tonta. Livre. Existe um cheiro a liberdade em quem corre assim.
Que fumas? Fumo tabaco. Eu JPS.
E tudo tem um simbolismo. Esta imagem. As tuas mulheres. E as minhas. Tenho algumas. Converto-as em palavras. As minhas mulheres. São do campo. E da cidade. Dos arrabaldes. Daqui e dali. Em comum têm... têm-me a mim. Porque eu vou. E dou. E recebo. E tiro. Roubo. E arranco. Sorrio. E rio. Apalpo. Deixo-me ir. Sou tomada e engulo. As minhas são fracas. Daí a sua força. Por sabê-las fracas. Por sabê-las potentes. Porque há muito que não se sentam. E eu ponho-as no meu colo. Ou corro de mão dada. E ambos sabemos que não são minhas. Mas chamemo-lhes assim.
As escadas de pedra tinham dez degraus. Creio que eram dez. Ou onze. Um aqui. Outro ali, outro acolá. Gastos, lisos, brilhantes. No Inverno alguns faziam pequenas poças. E sempre o medo. O medo de cair. O medo da vertigem daquele precipício. O medo de escorregar. De cair com os dedos sujos de massa de pão. Ai. Dá-me a mão. Subia. Um a um. Pé num. Pé no mesmo. Devagar. Os degraus serpenteavam a fachada da casa. E no topo alguidares vermelhos cheios de farinha. Posso? Empastava a boca da massa amarga a saber a campo. A Ti Casimira sorria-me. Sempre velha. Sempre igual. Come gaiata. Come. Azeda no estômago. O quente que está. A brasa no meu rosto. Obrigado Tia. Posso comer mais um bocadinho? Enfiar o dedo nesta massa amarelada e espessa e lambuzar a boca. Esconder os dedos sujos. Limpá-los nas calças. Obrigado. É amarga. E vira e revira o pão no forno. E a arte de trabalhar com a pá. De puxar e empurrar o pão no forno. Um dia também quero. Agarrar-me a esse pau e revirar o que estiver na sua ponta.
Vamos. O tanque está sujo. Vamos tomar banho com os limos e as canas. Vamos.
Ela atirou-se de barriga. Ponho um pé. Ela arrasta-se de costas. Ponho um pé. Empurro umas canas que flutuam. A minha mãe diz que tu és meio parvinha. És? Mas gosto de ti. Como gostei da Maria. Engravidaste aos treze. E tiveste de ser mãe quando nunca foste filha. Conheceste os prazeres da carne quando eu ainda me perdia pela boca com mãos nas ervilhas mamas. Eras tonta. Tu com o nome igual ao da minha irmã que não te falava. Por seres assim tontinha. Fascínio. Desejo por ti. Nos teus caracóis loiros. Sujos. O comeres a erva dos coelhos. O riso. Esse riso dos pobres de espírito. Poderoso. Deves ter dado o teu corpo com a mesma passividade com que entravas no tanque de água suja. Eras tonta. Mas eu entrei também. Queria ser tonta. Como tu. Afinal o teu sorriso era uma manhã de Sábado. Era o pátio do recreio. E pinhões já sem casca. Tonta. Tonta tu e tonta eu. Lembro-me de sentar no degrau junto à cruz e olhar-te. Uma matulona brincando com miúdos. Linda. Mulher. Rapariga. Mamas grandes. Corpo formado. Brincadeiras de apanhada. E os risos. Que risos. Uma força. Um íman. Mãe quando for grande quero ser assim. Tonta. Livre. Existe um cheiro a liberdade em quem corre assim.
Que fumas? Fumo tabaco. Eu JPS.
E tudo tem um simbolismo. Esta imagem. As tuas mulheres. E as minhas. Tenho algumas. Converto-as em palavras. As minhas mulheres. São do campo. E da cidade. Dos arrabaldes. Daqui e dali. Em comum têm... têm-me a mim. Porque eu vou. E dou. E recebo. E tiro. Roubo. E arranco. Sorrio. E rio. Apalpo. Deixo-me ir. Sou tomada e engulo. As minhas são fracas. Daí a sua força. Por sabê-las fracas. Por sabê-las potentes. Porque há muito que não se sentam. E eu ponho-as no meu colo. Ou corro de mão dada. E ambos sabemos que não são minhas. Mas chamemo-lhes assim.
No. We cannot clean the old dreams anymore. Does the body rule the mind, or just the mind rule the body????
ResponderEliminarJ.C.
Por não ser inocente invejo os inocentes. Recordando a cena seminal do filme "Idiotern" do Lars. O paraíso perdido certamente. Sem diozepam, ou o "Bom dia Portugal". Vivemos numa época terrífica e maravilhosa. Onde nunca foi tão fácil aceder à informação ou ser víctima da demagogia. Quem devemos admirar? O saudoso e tranquilo Thoureau do "Lake Walton", ou talvez o mais terrífico "Unabomber". Ambos são avisos. Que não estão a ser escutados. caminhamos intoxicados de televisão e internet, para um surdo suicidio moral. Já não há tempo. A falta de tempo vai ser a doença do século XXI. Falta de tempo para amar, para sofrer sinceramente para pensar. Tudo o que é mais íntimo é feito para nós, e servido como um hamburger do MacDonalds. Estamos a crescer tecnologicamente como disse mas a ficar cada vez mais infantis e egoistas, tudo passa e passa por nós. Os amantes fugazes e expresso, como os cafés amargos, os empregos fugazes, como os pensamentos. E os políticos sabem isso. E usam-no e usam-nos naturalmente. Também os filósofos. Eles que se levantem e falem. Não pedimos verdades. Pedimos coragem, sinceridade. reflexão... Nem que seja para recomeçar... algures.
ResponderEliminar"Tchim pum, tchim pum"
A banda passa;
Tchim pum, tchim pum em marcha lenta.
Democracia
Conforto
Alienação
Anestesia
Tchim pum pum
A banda passa"
E nós tambem nos passamos, naturalmente... :(